No passado mês de
Outubro de 2016 teve lugar na delegação Norte da Ordem dos Engenheiros (OERN) uma
conferência subordinada ao título Comunicar Engenharia.
Sumariamente, o
convidado Carlos Magno chamou a atenção para os prós e contras da atual
situação da engenharia portuguesa a nível da perceção pública, referindo que o
engenheiro não granjeia visibilidade como outras classes profissionais, mas isso
confere-lhe ao mesmo tempo uma certa isenção e menor desgaste em relação à confusa realidade
da comunicação social, onde muitas vezes todos falam e ninguém tem (derradeira)
razão.
Magno profeticamente deixou o vaticínio de que
o tempo do domínio da engenharia no panorama político e público está para chegar, depois
de uma certa falência da disciplina de Economia nessa posição de destaque, bem como do Direito. Todavia, Magno
chamou também a atenção para o modo como a terminologia da engenharia tem vindo a ser sequestrado por outras profissões, que a usam em termos como "engenharia
financeira", aproveitando-se da utilidade e crédito dos seus significados.
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Desde já saudando
esta iniciativa da OERN, na qualidade de editor deste blogue e de engenheiro químico que ouviu na íntegra o debate, gostaria
de tecer algumas considerações sobre a temática em questão.
Para começar,
frisar que o BEQ encontra-se desde 2010 num esforço de divulgação engenharia química em
língua portuguesa. Depois, referir que mais do que competir com outras
profissões, a divulgação de engenharia química faz-se pela demarcação das
fronteiras técnicas quando elas, existem, querendo com isto dizer que a melhoria da
consciência e reconhecimento da engenharia portuguesa joga-se muito no
entendimento das suas especialidades (química, mecânica, informática) , e ainda no
aproveitamento das oportunidades noticiosas que vão surgindo para
materializar a divulgação do saber técnico e a decifragem das implicações e
razões de aspectos pertinentes para o cidadão comum, numa linguagem que este possa perceber.
Como exemplo disto,
chamo a atenção para o surto de Legionella em Portugal, ocorrido em 2014, que foi uma
oportunidade perdida para a engenharia química portuguesa se revelar ao país,
nomeadamente explicando pelo menos porque motivo as torres de refrigeração são propícias
à disseminação de Legionella, de um ponto de vista técnico.
Antes de
concluir, vou talvez um pouco mais longe, dizendo que as referidas
oportunidades para a engenharia se afirmar jogam-se também na criação de interesse ou
no estímulo à consciência coletiva pelas infraestruturas de engenharia que existem,
nomeadamente fábricas e seus aspectos (capacidade de produção, processos de produção, fluxos materiais inter-fábricas como no
pólo Matosinhos-Estarreja). Por vezes, este trabalho passa por coisas tão simples e
banais como comentar uma chaminé ou explicar o que são "aquelas torres com fogo nas refinarias".
Assim, conclui-se
que a comunicação em engenharia, com destaque para a engenharia química, só
será melhorada se existir um esforço contínuo de fazer emergir publicamente essas
áreas enquanto realidade profissional e técnica, e ainda se tal esforço se
fizer pela positiva mais do que pela exploração dos aspetos negativos como
acidentes ou agressões ambientais.
Editor do BEQ.