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Sobre a descoberta acidental do polietileno


A descoberta do polietileno, a que os britânicos chamaram "politeno", é atribuída aos químicos da Imperial Chemical Industries (ICI), onde foi acidentalmente realizada entre 1932-1935.

[1]
Laboratórios da ICI, em 1933

No livro "The History of Polythene" (A História do 'Politeno'), do químico da ICI J.C.Swallow , pode ler-se o relato em primeira pessoa sobre a descoberta desta reação e deste polímero:

«Com o passar do tempo, qualquer história tende a idealizar-se e ser apresentada de forma a que sugira uma evolução estável e lógica de uma dada linha de investigação no sentido de uma descoberta e no culminar de um produto em particular.


A história do polietileno proporciona um exemplo extraordinariamente preciso dos resultados inesperados que podem advir da investigação, e da importância do azar neste trabalho. (...) A história real do polietileno começa no ano de 1932, em Northwich, Cheshire, no Departamento de Alcalinos da ICI, quando M.W. Perrin e J.C.Swallow recomendaram que devia levar-se a cabo oum trabalho sobre o efeito de pressões elevadas nas reações químicas. Foram testadas umas cinquenta reações durante 1932 e 1933 e todos os resultados obtidos foram decepcionantes. Entre estas, encontrava-se a reação do etileno com o benzaldeído, a qual foi testada em Março de 1933, a 170ºC e com uma pressão do etileno de 1400 atm. No fim da experiência observou-se a presença de um sólido branco e cerúleo, o qual foi identificado como sendo um polímero de etileno. Porém, ao repetir a experiência só com etileno, o sólido decompôs-se com grande violência.»


Entretanto os investigadores decidiram interromper estas experiências a alta pressão, para desenhar e construir um equipamento melhor. Assim, em Dezembro do 1935 era altura de repetir a experiência de benzaldeído e etileno, desta feito no novo equipamento. Decorria a experiência, e ao se atingir uma temperatura de 180ºC, a pressão começou subitamente a descer, tendo-se decidido bombear mais etileno para compensar a baixa de pressão. Havia provavelmente uma fuga numa das juntas do reator. No fim da experiência, porém, foram recolhidas 8 gramas de pó branco.

Sobre isto, o relato de J.C.Swallow continua:

«Discorrer sobre as verdadeiras razões do resultado obtido levou uns meses de trabalho intenso por parte de todos os membros da equipa de investigação. De novo, o azar teve um papel importante porque se a fuga não tivesse ocorrido, a experiência teria sido provavelmente muito menos espectacular e conduzir ao fracasso, tal como as suas antecessoras. O êxito deveu-se à adição de etileno, o qual casualmente continha a quantidade correcta de oxigénio para catalisar a formação do polímero.»


No período imediato à sua descoberta, o polietileno viria a encontrar uma grande utilidade no âmbito da Segunda Guerra Mundial enquanto isolante dos cabos dos radares, sendo em grande medida responsável pela eficácia deste equipamento electrónico. Por este motivo, há quem eleja o polietileno juntamente com teflon e a gasolina de aviação (inovação que garantiu vantagem competitiva da aviação britânica sobre a alemã), o principal contributo dado pelos químicos dos Aliados na vitória conseguida na Segunda Guerra Mundial.

Adaptado e traduzido de  Serendipity - Royston M. Roberts