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Sobre o uso ancestral de protetores solares, o dilema humano de bronzear a pele ao sol, e diferenças técnicas entre produtos de base mineral ou química


O conceito de protetor solar remonta pelo menos ao antigo Egipto, havendo relatos de que em toda a história da construção das pirâmides o único incidente envolvendo uma disputa trabalhista foi quando as autoridades ficaram sem protetor solar. A greve foi encerrada logo depois que o protetor solar foi entregue aos trabalhadores e eles voltaram ao trabalho. Acresce ainda que as formas mais comuns de filtros solares eram feitas de óleo de sésamo e rícino. Protetores solares mais elaborados eram feitos de várias plantas aromáticas, como o azul do Nilo, misturado com óleo. O filtro solar logo levou a fórmulas de base de maquilhagem, como batons e sombras para os olhos compostas de cobre, antimónio e carvão. O look egípcio clássico, com sombra escura, desempenhou um papel prático de atuar como um protetor solar, protegendo a área ao redor dos olhos das queimaduras solares.

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Fonte: B. Zebroski, A Brief History of Pharmacy: Humanity's Search for Wellness, Routledge, 2015.


A variação diurna e anual da radiação solar que chega à superfície é governada por fatores astronómicos e parâmetros geográficos bem como por condições atmosféricas. As ações decorrentes das atividades humanas que atingem a atmosfera, poluindo o ar e influenciando a camada de ozono, afetam também a radiação UV que chega à superfície. Consequentemente, a radiação UV é um parâmetro ambiental altamente variável no espaço e no tempo. 

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Fonte: Instituto Português do Mar e da Atmosfera

Processo de decisão humano em matéria de exposição à radiação solar.

O hábito humano de autosujeição a radiação solar ocorre sobretudo no período do Verão, associado a zonas balneares, e obedece a um processo de decisão que conjuga a expetativa de aumento bronzeado (e Vitamina D) com os riscos da exposição solar. O bronzeado resulta da produção de melanina na pele, um composto-resposta da pele à ameaça da radiação UVSe a quantidade de radiação ultravioleta exceder os limites a partir dos quais os mecanismos de defesa, inerentes a cada espécie, se tornam ineficazes, poderão ser causados graves danos a nível biológico, facto que também se aplica ao organismo humano e em particular aos órgãos da pele e da visão. Com o intuito de serem evitadas lesões, agudas e crónicas, resultantes da exposição a elevadas níveis de UV, as pessoas deverão limitar a sua exposição à radiação solar adotando medidas de proteção.

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Fonte: Instituto Português do Mar e da Atmosfera


O protetor solar é um produto atenuador da radiação UV do sol, sejam os desejados (bronzeado via produção de melanina), sejam os efeitos indesejados desta (as queimaduras e o risco de cancro de pele). Existem dois parâmetros que diferenciam, no geral, este tipo de produtos. Um deles é se produto tem base mineral ou base química. Os protetores solares de base química possuem na sua formulação compostos químicos que absorvem a radiação,. A aplicação deste produto na pele na forma uma película ou filme atua como barreira à radiação, deixando passar apenas uma fração da radiação UV que chega da atmosfera. Os protetores minerais funcionam segundo uma premissa diferente: eles não absorvem radiação UV, eles provoca a dispersão desta, ou seja, produzem um efeito 'espelho' que encaminha parte da radiação UV diriga à pele noutras direções. Este efeito é tipicamente alcançado com partículas de dióxido de titânio. A figura abaixo esquematiza estes mecanismos.

Mecanismos de atuação dos protetores solar de base química ou mineral.


Os fatores de proteção solar, e a eficiência fotoprotetora

A eficiência fotoprotetora do protetor solar é determinada através dos valores do fator de proteção solar (FPS) e do grau de proteção UVA (PA). De acordo com os regulamentos da Food and Drug Administration (FDA), os produtos comerciais devem ser rotulados com valores de FPS que indicam por quanto tempo eles protegerão da radiação ultravioleta e devem mostrar a eficácia da proteção [17]. Os valores de fator de proteção solar estão geralmente na faixa de 6–10, 15–25, 30–50 e 50+, correspondendo a proteção baixa, média, alta e muito alta, respectivamente [17]. 

No entanto, existem alguns mal-entendidos fundamentais sobre o FPS. Alguns argumentos dizem que um protetor solar FPS 15 pode absorver 93% das radiações UV mais nocivas (UVA), enquanto um produto FPS 30 pode bloquear 96%, o que é pouco mais de 3% a mais [18]. O argumento pode estar correto ao avaliar a capacidade de proteção solar, mas não é suficiente para avaliar a quantidade de radiação UV que entra na pele. Em outras palavras, metade da radiação UV penetrará na pele ao aplicar um produto com FPS 30 em comparação com um produto com FPS 15. [18]. Isso também é ilustrado ao comparar o FPS 10 com o protetor solar FPS 50.

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Fonte: L.T.N. Ngoc, V.V. Tran, J.-Y. Moon, M. Chae; D. Park, Y.-C. Lee, Recent Trends of Sunscreen Cosmetic: An Update Review, Cosmetics 6 (2019) 64.

Definição do fator de proteção solar (FPS), 
incluindo radiação UV filtrada e  transmitida