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Entrevista BEQ a Renata Martins, diretora Geral da BASF Portuguesa (11/2023)

Renata Martins (RM) é formada em Engenharia Química (1995) e mestre em Administração de Empresas pela FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado (Brasil). Desde outubro de 2022 que Renata Martins é a Directora Geral da BASF Portuguesa. Faz parte do Comité Executivo do Grupo BASF na Iberia.

Renata iniciou a sua carreira na BASF, no Brasil, em 2001 como Gestora de Contas para os mercados da insdústria automóvel e petroquímico, onde ocupou diversas responsabilidades comerciais e de negócio. A partir de 2011 e durante sete anos, foi Directora de Petróleo na General Electric.

Em 2018, regressou à BASF como Responsável Regional de Aditivos e Lubrificantes para a América do Sul.


A sua carreira profissional conta com passagens por grandes empresas como a Esso, Shell, General Electric, Petrobras e BASF. De que modo o percurso que trilhou define a profissional que hoje é?

RM: O que me marcou, principalmente, é o facto de eu ter passado por algumas empresas e não ter ficado em uma só. Acredito que isso ajuda muito na visão do mercado, do cliente, do produto, etc. Este percurso variado fez com que eu seja hoje uma pessoa muito flexível que entende a mudança de uma maneira natural. Eu gosto do desafio e gosto da mudança. O que também me moldou ao longo dos anos é a interação com as pessoas, quer da equipa quer do cliente. Gosto muito de pessoas.


Tendo tido a oportunidade de testemunhar a realidade de vários setores industriais (petrolífero, petroquímico, home care, mineração, automotivo), o que une e o que separa cada um deles?

RM: Os mercados são diferentes e as maneiras de atuação também. O que separa a realidade dos vários setores é de ordem técnica e económica. No entanto, há um elo que os une fortemente, lá está, são outra vez as pessoas. É importante entender a parte técnica, mas é igualmente importante entender as pessoas. Então, o comprador é uma pessoa que tem os seus desafios e as suas vontades.

De entre esses setores que bem conhece qual mudou mais nas últimas décadas? Em que sentido?

RM: É difícil dizer. Vejo grandes mudanças em todos os setores, com maturidades diferentes, rumo a uma sustentabilidade cada vez maior e rumo a uma crescente digitalização com uma crescente integração de soluções da inteligência artificial. As empresas petroquímicas deram um grande salto em direção à energia verde, são cada vez mais independentes do petróleo. Na automação também vimos grandes progressos. É mesmo difícil destacar um único setor. Todos eles evoluíram muito nas últimas décadas.

Na perspetiva do profissional de engenharia química (EQ), quão fácil é migrar de um setor industrial para outro? Sentiu em algum momento que a formação base em EQ se desenquadrava com a natureza da atividade industrial?

RM: Ser profissional de engenharia química é um excelente ponto de partida, já que a EQ é muito ampla. É obvio que no mercado em que o ou a profissional entrar, tem que se especializar, tem que estudar, tem que aprender. Muito importante é aprender soft skills. Iniciamos a carreira com conhecimentos técnicos e a partir da segunda metade são, sobretudo, as soft skills que fazem a diferença.


À sua formação base em EQ a Renata somou um Master of Business Administration (MBA). Em que momento da carreira sentiu que esta formação estava a ser necessária? O que ganhou desde então com os conhecimentos adquiridos com o MBA?

RM: Na verdade, fiz o MBA logo a seguir à licenciatura porque sempre gostei da área comercial e senti falta disso no curso de EQ. Acho que hoje até a engenharia química já mudou muito, mas quando eu me formei foi muito técnica. Queria ir para as vendas e acredito que o MBA fez toda a diferença.



O prémio nobel da economia de 2023, atribuído a Claudia Goldin, enfatizou o tema da disparidade salarial entre homens e mulheres. Como avalia os progressos das mulheres na indústria química em geral, e nas oportunidades de alcançar cargos de chefia em particular?

RM: Acredito que, hoje, todas as empresas estão empenhadas em reduzir as diferenças a nível salarial e a nível quantitativo entre mulheres e homens. Felizmente, vemos cada vez mais mulheres a subir à liderança.

O seu percurso profissional tem estado ligado ao tema da sustentabilidade: que bons exemplos pessoais pode partilhar sobre progressos alcançados em matéria de sustentabilidade?

RM: Para mim, a par das pessoas, a sustentabilidade é uma prioridade já há muito tempo. Foi por esses dois valores que voltei à BASF depois de um interregno de sete anos na GE Water & Process Technologies. Já tinha trabalhado na BASF de 2002 a 2011. Voltei em 2018 e foi gratificante voltar a uma empresa que tem valores similares aos meus.

O ano de 2023 tem sido marcado em Portugal por bastantes episódios com jovens ativistas climáticos. Acha que a indústria química (em sentido lato), de que a BASF é uma destacada representante, está a fazer tudo o que está ao seu alcance para minorar o impacto ambiental e inverter a tendência do aquecimento global?

RM: Acho que a BASF contribui, de facto, fortemente para inverter a tendência. O nosso Grupo investe, anualmente, 2,3 mil milhões de euros em Investigação & Desenvolvimento. O objetivo é desenvolver soluções cada vez mais ecológicas e sustentáveis. Desse trabalho resultou, por exemplo, o fungicida Revysion que lançámos este ano em Portugal. O Revysion vem inaugurar uma nova geração de fungicidas triazóis para o tratamento de doenças da vinha, das pomóideas e das prunóideas. Foi desenvolvido para responder às mais altas exigências regulamentares e apresenta assim um perfil toxicológico, ecotoxicológico e ambiental muito favorável. A nível global, o Grupo BASF quer reduzir as suas emissões de CO2 até 2030 em 25 por cento comparado a 2018, introduzir uma gestão de água sustentável nas localizações de produção em regiões com escassez de água, bem como continuar a otimizar a gestão de resíduos, ou seja, prevenir, reduzir e reutilizar. Cada filial tem a função de ser um catalisador e identificar as opções de desenvolvimentos em sustentabilidade, de energia e matérias-primas verdes. O nosso desafio em Portugal é como podemos ser parte do processo de sustentabilidade sem ter fábrica. Na minha opinião, podemos, por exemplo, contribuir através da consciencialização da nossa equipa e dos nossos clientes, bem como ajudar os clientes com as nossas tecnologias na sua jornada para a redução da pegada de carbono.

O que espera do ano de 2024 para a BASF Portugal?

RM: É sempre arriscado dar uma previsão, ainda mais nos tempos em que vivemos, mas aceito o desafio: A minha expectativa é que a BASF consiga manter e consolidar os resultados, visto que o mercado químico não tem caído tanto em Portugal. Entre o fim de 2023 e o começo do novo ano, temos vários projetos que vão preparar o terreno para um bom 2024.


Qual a principal oportunidade industrial que reconhece para a próxima década em Portugal?

RM: Bom, vivo aqui há um ano. Parece-me que Portugal se tem posicionado muito bem em várias indústrias, nomeadamente na da cortiça, na farmacêutica, na indústria de tintas, e alcança uma forte taxa de exportação. Onde ainda vejo muito potencial é na agricultura e, naturalmente, pela localização privilegiada, na produção de energia verde. Portugal tem vento, tem sol, é um país ideal para se tornar um forte produtor em energia eólica, solar e até em hidrogénio verde.

E para o Brasil?

RM: Depende muito da política. Espero que seja uma década forte para a sustentabilidade. O Brasil também tem um potencial muito grande de produção de energia renovável.

Que mensagem deixaria para os potenciais estudantes e/ou jovens profissionais de EQ? Vale a pena ser EQ no século XXI?

RM: Sem química o dia a dia não funciona e não existiria como o conhecemos hoje. Por isso, vale muito a pena ser EQ no século XXI. Ainda hoje estou muito feliz com o curso que escolhi, até pela amplitude de opções no mercado de trabalho, seja na área comercial, na técnica, na financeira ou na produção. Gosto muito da engenharia química e da minha profissão.

Que livro recomendaria para leitura à comunidade de profissionais de EQ e por que motivo o recomenda?

RM: “Daring Greatly: como a coragem de ser vulnerável transforma a maneira como vivemos, amamos, somos pais e lideramos” da Brené Brown. Tornou-se um grande guia para a minha vida e liderança

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O BEQ agradece publicamente a Renata Martins pela disponibilidade de ser entrevistada e a prontidão com que respondeu ao convite. Entrevista realizada em Novembro de 2023.