A emissão de substâncias que conferem
odores característicos quando descartadas no ar atmosférico é um problema
corrente na atividade industrial. Indústrias de segmentos diversos como
alimentos, química, petroquímica, metal-mecânica, artefatos de couro, entre
outras, são geradoras de odores. Alguns exemplos que, frequentemente,
caracterizam esse problema são:
- Emissões de gás sulfídrico
que ocorrem durante a degradação anaeróbia da matéria orgânica. O gás
sulfídrico pode ser gerado em etapas intermediárias do processo
industrial, como no caso de curtumes, ou nas operações preliminares de
estações de tratamento do efluente industrial;
- Emissões de solventes que não
são completamente recuperados em processos químicos e em operações de
pintura industrial. Essas emissões também ocorrem em consequência de
vazamentos nas instalações, conhecidas como emissões fugitivas;
- Descarga atmosférica de
substâncias sem valor comercial, ou de difícil remoção, como no caso das
emissões derivadas de processos de cozimento de vísceras em unidades
conhecidas como graxarias, normalmente encontradas em frigoríficos.
A geração de odores
torna-se um problema de difícil gerenciamento quando atinge núcleos urbanos. O
mal estar provocado com a percepção de odores, por si só, já é um prejuízo
ambiental, porém também é um sinal de que substâncias tóxicas podem estar sendo
descarregadas em concentrações elevadas na atmosfera.
Coluna de lavagem de gases.
Nem sempre a emissão
de odores é controlada com soluções triviais. A seguir, são apresentadas
algumas dicas que podem auxiliar o tratamento desse problema.
- Antes de atacar o problema com o projeto de
sistemas de controle de poluição atmosférica, é importante identificar as
características da principal fonte de odores. Um diagnóstico, realizado
por meio de aplicação de um questionário junto aos vizinhos da instalação
industrial, geralmente ajuda a caracterizar a intensidade do problema,
horários de ocorrência e tipologia do odor. Estas informações contribuem
para a identificação das principais fontes de geração no processo
industrial. O diagnóstico preliminar de odores previne a aplicação de
recursos em técnicas que podem não ser efetivas para a solução do
problema;
- Deve-se identificar as operações das áreas de
processamento e auxiliares, como sistemas de armazenamento e tratamento de
resíduos, por exemplo, que operam em contato com o ar. Sistemas abertos
devem ser enclausurados e equipados com sistemas de exaustão e tratamento
do ar exausto;
- Emissões fugitivas sempre estão presentes em
instalações industriais, mesmo em instalações novas. Um correto plano de
manutenção preventiva para controlar os pontos de ocorrência de vazamentos
deve ser aplicado, com uma frequência mais alta em pontos de criticidade
elevada. Desta forma, verifica-se a importância de um estudo voltado à
classificação da criticidade dos pontos de vazamento potencial do processo quanto à
geração de odores. Quando só a manutenção não resolve, deve-se considerar
a substituição por componentes que ofereçam maior estanqueidade;
- Há casos em que medidas de controle de
emissões, além de pouco efetivas, são responsáveis por custos muito elevados.
Nestes casos, só uma reavaliação do processo resolve o problema de geração
de odores. Alguns exemplos típicos são a substituição de solventes por
outros de menor volatilidade, a substituição de operações de absorção que
empregam solventes por adsorção e a conversão de sistemas de tratamento
anaeróbio em sistemas de tratamento aeróbio. A intensificação de
processos, técnica que combina mais de uma operação unitária, é uma prática nova que pode ser considerada, principalmente no projeto de plantas novas, e que
auxilia a redução de emissões fugitivas;
- A integração material é uma técnica de
prevenção da poluição que consiste em reutilizar correntes materiais já
existentes no processo, com a finalidade de absorver e recuperar
componentes químicos. O emprego desta técnica "cria valor" a correntes
que antes seriam descartadas por não apresentarem uso comercial. Esta
solução diminui o descarte de materiais e substitui ou reduz o emprego de
solventes. A integração material, além de recuperar matérias-primas e
insumos de produção, pode minimizar a emissão de substâncias que conferem
odor;
- A tarefa de avaliar o desempenho de novos equipamentos instalados deve integrar o projeto de controle de odores. O
desempenho desses equipamentos deve ser medido em unidades de odor (UO) que consiste na
relação entre a concentração medida de um componente escolhido como
indicador e sua concentração limite para percepção de odor no ar. Quando
as emissões produzidas correspondem a UO<1, o projeto é aceitável. Caso
contrário, deve ser aplicada uma revisão de projeto;
- A variabilidade dos processos é um problema
adicional que pode contribuir com a produção de odores. Não é incomum
determinada unidade industrial que realizou grandes investimentos em
instalações para o controle de odores continuar a ser alvo de reclamações no entorno da planta. Um exemplo muito comum
é a operação de colunas de lavagem de gases, muito utilizadas na absorção
de substâncias que conferem odor. Essas colunas operam com recirculação da
corrente absorvedora (usualmente água) que atinge sua saturação após
determinado tempo. O pouco cuidado operacional faz com que a coluna pare
de funcionar e as emissões reaparecem. Nesse caso, é recomendável a
operação com purga contínua e, muitas vezes, o controle automático.
A minimização de odores é um problema
de difícil solução. As técnicas efetivas não podem ser generalizadas, sendo
específicas para cada caso e podendo apresentar custos elevados ou reduzidos,
dependendo da abordagem aplicada e da correta definição do problema. Apesar de
várias alternativas de solução serem possíveis, a eliminação completa dos
odores pode ser um objetivo inalcançável. Todavia, deve-se garantir a aplicação
da melhor técnica disponível, esgotando as alternativas possíveis que permitam
reduzir as emissões responsáveis pela percepção de odores.