Últimas

Search Suggest

Sobre a controversa teoria da origem abiogénica do petróleo, gás natural e carvão, e diferentes cientistas ao longo da história que a defenderam


Imagem: V.G. Kutcherov, Abiogenic Deep Origin of Hydrocarbons and Oil and Gas Deposits Formation, Hydrocarbon, Cap.1, 2013, IntechOpen


O livro Nove Ideias Malucas em Ciência - do alemão  Robert Ehrlich -, que faz divulgação de teorias científicas alternativas às versões que conhecemos para diferentes assuntos, tem um capítulo que aborda um assunto altamente familiar para a engenharia química - o petróleo - mas fá-lo no que respeita à hipótese deste ter uma origem não-biológica (abiogénica), ou seja, deste formar-se como consequência geológica independente da sedimentação acumulada e demorada de detritos oriundos de plantas ou algas.

Tomo a liberdade de partilhar breves trechos do capítulo em questão: 

(....) Uma das ideias estranhas de [Thomas] Gold, [1920-2004] (atacada ou ignorada pela maior dos geólogos) consiste em afirmar que os hidrocarbonetos não são os combustíveis fósseis que julgamos, mas antes faziam parte da composição original do planeta, sendo muito mais abundantes na crosta terrestre e no manto da Terra do que os geólogos crêem. (...) Se Gold estiver certo, os benefícios práticos são enormes, já que os receios da falta de petróleo e gás poderão ser adiados para um futuro distante. A validade das suas teorias implicaria, também, a existência de fontes subterrâneas de gás natural e petróleo em muitas regiões do globo.


(...) A terceira razão da reabertura do debate deve-se ao facto de terem sido encontradas grandes quantidades de hidrocarbonetos no sistema solar em todos os planetas à exceção de Vénus, Marte, e Mercúrio. Estes elementos também foram encontrados em muitas luas planetárias. (...) Também se encontraram hidrocarbonetos em forma gasosa e sólidas numa séries de cometas e asteróides. (...) Se os hidrocarbonetos terrestres são o produto de vegetação subterrânea em decomposição, temos de invocar diferentes explicações para a existência de hidrocarbonetos na Terra e noutros planetas; mas, se os hidrocarbonetos são primitivos, só é necessária uma explicação.

O livro aborda com notável capacidade de síntese as 15 observações que levam Gold a defender a origem abiogénica para o petróleo, carvão e gás natural.




Convém notar que segundo esta teoria, o carvão teria uma origem relacionada e acidental relativamente à premissa de existir um fluxo ascendente de hidrocarbonetos desde o interior da Terra:

(...) A resposta de Gold é que os fluidos de hidrocarbonetos provenientes da crosta profunda e do manto terrestre embatem com frequência em depósitos sedimentares, onde o fluido é lentamente transformado na substância a que chamamos carvão, sendo os fósseis desses sedimentos embutidos no carvão. (...) Além disso, encontram-se, por vezes, folhas intactas ou pequenos ramos no carvão. Se o carvão tivesse origem vegetal, como poderia o processo deixar algum material completamente intacto, ao mesmo tempo que transformava o material circundante numa massa homogénea?

Se Gold estiver correto, os benefícios para a humidade serão enormes. Por isso é tão importante analisar a sua hipótese com espírito aberto, liberto de preconceitos, cujos fundamentos não se baseiam em princípios fundamentais. 




Diferentes proponentes/subscritores da teoria ao longo da História:

A ideia sobre a origem do petróleo remonta ao século XVIII e início do século XIX, quando não se conhecia a natureza química do petróleo. Abraham Gottlob Werner e os defensores do neptunismo no século XVIII consideravam as soleiras basálticas como óleos solidificados ou betume. Embora estes conceitos não se tenham revelado sólidos, a ideia principal de uma associação entre petróleo e magmatismo persistiu quando Alexander von Humboldt propôs uma hipótese abiogénica inorgânica para a formação de petróleo depois de ver nascentes de petróleo na Baía de Cumaux (Cumaná) na Venezuela. É citado como tendo dito em 1804, "o petróleo é o produto de uma destilação de grande profundidade e sai das rochas primitivas sob as quais residem as forças de toda a acção vulcânica". (…) outros proeminentes defensores da hipótese abiogénica incluíram Mendeleev (1877) e Berthelot (1827-1907). O geólogo russo soviético Nikolai Alexandrovitch Kudryavtsev também propôs a moderna hipótese abiótica do petróleo na década de 1950.

Fonte:  Donatien Ishimwe, Origin and Formation of Petroleum, Society of Petroleum Engineers, 2014