Com alguma imaginação, é possível pensar-se no sistema digestivo e no sistema respiratório como sendo dois processos físico-químicos com uma relação umbilical: embora perfeitamente diferentes na sua função final, partilham a parte inicial, caracterizados por dois ramais de admissão de matéria (boca e nariz) geridos por uma válvula de controlo PID conhecida por epiglote.
As diferenças entre os dois processos a jusante da epiglote (não descritos no esquema) jogam-se também ao nível das fases que são permitidas. Enquanto no caso do esófago (sistema digestivo) as fases gasosa, líquida e sólida são igualmente possíveis, com a traqueia (sistema respiratório) a margem de manobra é bem mais reduzida: a respiração é um processo menos versátil a esse nível, estando concebido idealmente para lidar apenas com a fase gasosa, e exibindo alguma tolerância à presença vestigial da fase líquida (muco).
Para além da epiglote, podemos considerar ainda que os lábios funcionam também como um controlador PID, que abre e fecha consoante se pretende aumentar ou reduzir o caudal de entrada pela boca.
Igualmente curiosa é a existência de sistemas de filtros de partículas no formato de pelos nasais, muco nasal, e saliva. Do ponto de vista industrial são sistemas equiparáveis ao filtro de partículas de um carro (ver figura), ou à peça de equipamento conhecida como lavador de gases (ver figura).
No caso da saliva, esta pode ser considerada ainda como um solvente make-up para o processo de digestão, visto que também tem funções de dissolver/diluir (e digerir) os sólidos e líquidos que são ingeridos. Exibe portanto funções duplas.
Pelo exposto, o qual certamente requer um grau de imaginação e doses consideráveis de simplificação, é possível equiparar a biologia humana a processos semelhantes àqueles que se encontram na indústria em geral, seja ela química, automóvel, alimentar, etc.
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Filtro de partículas de um carro e sua possível
equiparação à função dos pêlos nasais.
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Lavador de gases e sua possível
equiparação à função do muco nasal e da saliva.
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Tendo por base este esforço de entendimento da biologia humana com recursos familiares à engª química, torna-se mais fácil perceber a perigosa mas popular brincadeira conhecida por Desafio da Canela, na qual é pedido a alguém que aguente uma colherada de canela na boca, sem nada beber, durante 60 segundos. A aparente piada reside no colapso motor daqueles que não aguentam o desafio . O que sucede é que o excesso canela reveste e seca a boca e garganta anulando o sistema de filtro de partículas e lavador de gases, e a pessoa vê-se na reação de inalar a canela, e violentamente começar a tossir para a expelir através de uma inversão de fluxo de emergência (expiração).
Do ponto de vista industrial, corresponde a saturar momentaneamente o sistema apresentado com partículas e fazer figas para que resista.