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Sobre a extinta fábrica de aglomerados de madeira TABOPAN, e o caso de uma indústria que potenciou o desenvolvimento da região de Amarante (Portugal)


Dos anos 60 aos anos 80, a Serra do Marão impõe-se como maior fonte de rendimento da actividade industrial amarantina, com a criação das Indústrias Tabopan, um complexo de sete fábricas que produziam placas de aglomerado de madeira e respectivos produtos, tais como mobiliário, portas e laminados. Empregavam a maioria da população amarantina e a escola técnica que estava inserida neste complexo formava os jovens que terminavam o ensino obrigatório, de modo a que tivessem direito a um lugar numa das fábricas.

(..) A floresta e, por conseguinte, a madeira, ganhou um novo propósito na indústria portuguesa graças à introdução das indústrias transformadoras de materiais lenhosos e, por conseguinte, do aglomerado de madeira. (..) O processo permitia que os desperdícios de madeira fossem triturados, misturados com resinas e, posteriormente, prensados a quente, em espessuras impossíveis para a madeira maciça, para formar grandes quantidades de placas de madeira aglomerada, mais flexíveis e de maiores dimensões [42]. Deste modo, tornou-se possível manufaturar maiores quantidades de produto final sem aumentar o desbaste florestal. Revelou, ao longo do tempo, uma actividade de grande rendimento, produtividade e sustentabilidade, tanto a curto como a longo prazo: aumento da área arborizada, fixação da população graças ao emprego, [etc].



(...) Por ser um produto com uma relação qualidade/preço bastante equilibrada, estas placas surgiram como uma inovação na utilização de produtos derivados da madeira, uma vez que, dependendo da espessura do material, este poderia ser utilizado de forma muito flexível, desde mobiliário e revestimentos até à construção civil, na cofragem de betão armado. A cofragem de betão da fábrica de Alumínios Pechiney, na Holanda [43], foi feita por placas de aglomerado de madeira da marca Tabopan, de 8mm de espessura: este material permitia uma cofragem curva, sem grandes reforços e trabalhos de acabamento, graças à sua superfície lisa. Devido à utilização de resinas no processo de fabrico, estas placas apresentavam características hidrófugas, o que contribuiu para a sua reutilização em trabalhos de cofragens, diminuindo desperdícios e custos.(71)

(...) Em Portugal, a marca Tabopan significava exactamente o produto fabricado, nomeadamente as placas de madeira aglomerada [44]. As Indústrias Tabopan, cujo complexo industrial estava sediado em Amarante, acompanhou desde cedo o crescimento de transformação de materiais lenhosos; a repercussão desta marca foi tão forte que ao material ficou associado o nome Tabopan. A empresa Abreu & Cia. fez parte do grupo pioneiro da Península Ibérica que produziu esta matéria prima, após as primeiras placas terem sido fabricadas em Bremen, em 1939, cuja produção fora abruptamente cancelada devido à II Guerra Mundial, onde os produtos dos desbastes florestais revertiam sobretudo para abastecimento de lenha, carvão, mobiliário, construção civil e embalagens. 

Reportagem da RTP sobre a queda da TABOPAN. 


(...) Após o primeiro contacto de José Abreu com o painel aglomerado [48], este comprometeu-se a trazer esta indústria para território português, e, conjuntamente com os seus irmãos, cria as Indústrias Tabopan: “Tabopan era a designação de “Tábuas Prensadas Nacionais” nome então registado, pelo mundo, nos seus cinco continentes, e foi, e é, dos nomes mais prestigiados da Indústria Transformadora do material lenhoso”(82). A 19 de Março de 1958, foi inaugurada a produção da primeira fábrica de painéis aglomerados da Península Ibérica: a Tabopan I [49].(83) A alta qualidade das madeiras provenientes da Serra do Marão era o segredo para o êxito dos painéis aglomerados da Tabopan.

(...) No início dos anos 70, o Governo português incentiva José Abreu a expansão das Indústrias Tabopan para Trás-os-Montes, de modo a promover a economia da região do Alto Tâmega, que resultaria na criação de empregos para o povo transmontano e na utilização das madeiras à disposição nas suas serras.  (...) Com a construção deste novo complexo, avizinha-se o declínio da empresa Abreu & Cia. Com o novo regime imposto pelo 25 de Abril de 1974, José de Abreu descreve as suas consequências perante as suas Indústrias em Trás-os-Montes: "O fracasso desta iniciática, deve-se, exclusivamente aos governantes que assumiram o poder a partir da mudança de Regime, que não respeitaram os compromissos assumidos pelos governantes que os antecederam."


(...) Nos anos de 1979, 1984 e 1985, foram feitas tentativas para que fossem pagos os incentivos necessários para o funcionamento do complexo transmontano, sem sucesso. A empresa entrou numa fase difícil a nível financeiro, incapaz de manter a actividade industrial, e interrompe a sua produção em 1986. e nos anos 90 acabaria por entrar em falência(95).

(...) Outrora um elemento unificador da cidade de Amarante, a nível económico e social, as Indústrias Tabopan deixaram um vazio no desenvolvimento da cidade. Enquanto se encontrava em  funcionamento, empregou grande parte da população amarantina, mantinha as suas florestas cuidadas, e desenvolveu a sua rede viária, com a construção da nova ponte. (...) Apesar de falir, deu a Amarante os elementos necessários para crescer e se tornar a cidade que chega à actualidade.
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Fonte: A.L.C.D. Mesquita, Indústrias Tabopan: o que acontece quando uma fábrica em ruínas renasce?, 2017, Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (Tese de Mestrado Integrado em Arquitectura)