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Sobre o gás das bebidas refrigerantes e a acidificação dos oceanos: a peculiar relação do dióxido de carbono e água

O dióxido de carbono é o maior vilão do aquecimento global, mas em dias quentes nada como abrir uma garrafa de água gaseificada ou uma lata de refrigerante e desfrutar da sensação causada por um líquido repleto de bolhas deste gás, que mexe com as terminações nervosas e contribui para uma sensação de prazer.

Uma questão de equilíbrio químico

Tudo começa com um fenómeno de exceção: o dióxido de carbono comporta-se de maneira muito diferente dos outros gases do ar. Quando se dissolve na água, reage para estabelecer uma série de equilíbrios:


Uma pequena fração do CO que se dissolve na água reage rapidamente para formar ácido carbónico. Por sua vez, este dissocia-se parcialmente para formar iões de hidrogénio, bicarbonato e carbonato. O CO continuará a  dissolver-se até que o equilíbrio seja alcançado.
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Que fatores influenciam a concentração máxima de CO₂ em água ?

O equilíbrio do dióxido de carbono em água é afetado pelas condições de pressão, temperatura, pH e a própria composição química da água, nomeadamente a composição mineral ou outros aditivos que a bebida possa conter.

As relações da concentração máxima de CO em água podem ser apreciadas nas figuras seguintes, onde os efeitos da pressão, temperatura, pH estão representados. Por observação das figuras, é possível concluir que a concentração máxima de CO2 em água pode ser potenciada através da (i) redução da temperatura, (ii) aumento da pressão; e/ou (iii) redução do pH. 

Em relação ao pH é de referir que se trata de uma variável que, apesar de poder ser manipulada, é ela própria um indicador da presença de CO em água, visto que há formação de iões H+ como resultado da especiação deste naquela. 


Solubilidade do CO em água em função da temperatura e pressão. 

Relação do pH na solubilidade do CO e sua especiação em água.



Qual a pressão no interior de uma lata de refrigerante e... porquê?

O vídeo abaixo mostra uma experiência de alunos da Michigan Tech Mechanical Engineering onde, com recurso a um extensómetro, determinam a pressão interna de um recipiente de pressão de paredes finas, a saber uma lata de Coca-Cola. A conclusão final é que, imediatamente antes da sua abertura, a pressão no interior da lata é de 60 psi, o que corresponde a 4 bar. Confrontando este valor no gráfico acima que relaciona solubilidade de CO com a pressão e temperatura, claramente que esta pressão é usada para favorecer a gaseificação da bebida, com ganhos para quem a consome.


Diferenciação das águas com gás pelo sabor, acidez, e concentração de CO₂

Ao ler a ficha técnica da famosa água San Pellegrino - cuja gaseificação é natural, brota com gás da fonte onde é captada - é interessante constatar como as propriedades do CO na água se transformam em qualidades e adjetivos. Pode-se ler: é brilhante, desprovida de qualquer odor, com bolhas densas, consistentes e em abundância. A impressão imediata no paladar é de muita frescura, seguido de uma acidez moderada que estimula a salivação, enquanto o elevado conteúdo mineral deixa um final agradável e persistente.

No caso da marca portuguesa Água das Pedras Salgadas, cujo produto-mãe é captado a 1000 metros de profundidade, a segmentação comercial levou ao lançamento da versão Pedras Levíssima, um produto com menor concentração de gás, descrito do seguinte modo: Pedras Levíssima é a água mineral natural gasocarbónica com menor teor de gás, mas 100% natural proveniente de Pedras Salgadas. Sendo mais leve e mais fácil de beber, coloca-a como a melhor alternativa à água lisa. Pedras Levíssima é uma água com o melhor dos dois mundos: leve como uma água lisa e refrescante, divertida e prazenteira, como uma água com gás.


Acificação de oceanos e o CO₂

A acidificação do oceano é causada por um influxo de dióxido de carbono dissolvido. À medida que os níveis atmosféricos de CO aumentam devido a causas antropogênicas, o CO dissolvido também aumenta, o que diminui o pH da água.

Quando a água fica saturada com CO, ela não apenas reduz o pH do oceano, mas também esgota as fontes de carbonato de cálcio ³⁵. O carbonato de cálcio, CaCO3, é um ingrediente necessário na construção de corais, conchas e exoesqueletos para muitas criaturas aquáticas. À medida que os níveis diminuem, fica mais difícil para as criaturas marinhas construirem as suas conchas.
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Fonte: Fondriest

 Cronologia do pH registado no Oceano Pacífico Noete em função da concentração atmosférica de CO2.