Nesta publicação apresenta-se uma seleção de temas (na ótica da área da engenharia química) apontados pelo plano de António Costa Silva com vista à reindustrialização e recoversão industrial do país, vertidos no documento Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica e Social 2020-2030
Contextualização da situação/panorama encontrada em 2020:
Portugal pode ter acesso ao maior pacote financeiro da União Europeia desde a sua adesão, se tivermos em conta as subvenções do Quadro Financeiro Plurianual de 2021 a 2030, o Fundo de Recuperação proposto pela Comissão Europeia e ainda os empréstimos, além do reforço do papel do Banco Europeu de Investimento e do seu Fundo Europeu de Investimento, para projetos económicos específicos. Neste contexto esta é uma oportunidade de ouro para revisitar os clusters e para alinhá-los com as tendências mais significativas da economia do futuro.
(...) A desindustrialização acelerada promovida nas últimas décadas, a subalternização da economia produtiva, a deslocalização em massa de empresas e atividades críticas para o exterior de Portugal e da Europa, criaram inúmeras fragilidades que a crise veio evidenciar. A reorganização das cadeias de produção industrial e das cadeias logísticas é um objetivo crucial para o relançamento e a recuperação da economia portuguesa e europeia.
Deste quadro estratégico resultam pilares essenciais para a recuperação, que têm a ver com a reconversão industrial e a reindustrialização, mas também com a saúde, com o setor social e a luta contra a pobreza, com o sistema científico e de inovação e a aposta fulcral para o seu reforço e consolidação.
(...) Este programa de reindustrialização pode cobrir todos os setores da economia, em particular da indústria transformadora, dos moldes e injeção de plásticos, à química, metalomecânica, têxteis e calçado, à indústria automóvel e aeronáutica, até à ciência dos novos materiais e produtos compósitos. Pode atuar na mobilidade elétrica para fornecer componentes para veículos, sistemas de carregamento e software. Pode atuar no setor energético, para alavancar o potencial do país, dinamizando o solar e a biomassa, e apostando no desenvolvimento do software para as redes elétricas inteligentes e para a Internet das Coisas. Pode ainda intervir no setor da construção naval, na reparação de navios e no seu desmantelamento. Pode ser crucial para a indústria do tratamento de resíduos com a invenção de soluções tecnológicas para a reciclagem de sucatas e o processamento de resíduos. Pode exponenciar a indústria de serviços, articulando-a com a engenharia, o design e o software para gerir produtos complexos.
Os setores de atividade mais prementes no futuro:
Podemos discutir este ou aquele elemento, mas a economia do futuro vai passar por um papel ainda mais relevante das Ciências da Saúde e das indústrias adjacentes; pela ascensão ainda maior das energias renováveis e da mobilidade elétrica; pelo avanço imparável das tecnologias de informação e comunicação; pelo e-commerce e pela bioeconomia sustentável; pelo mar e as plataformas logísticas, sem esquecer os setores tradicionais que são essenciais para o futuro, como a indústria agroalimentar e a floresta.
Este é o momento para garantir uma maior eficiência na gestão da energia e dos recursos, assegurar a descarbonização dos processos industriais e adotar modelos de economia circular, estabelecendo simbioses industriais. A economia do futuro tem de ser virada para a reconversão industrial baseada na reorientação das cadeias logísticas e de produção e a necessidade de evitar a total dependência do exterior de produtos e bens essenciais, como os equipamentos de saúde, os medicamentos, os bens alimentares, a eletrónica, a energia, os serviços de informação, e as tecnologias com impacto na defesa e segurança. Esta reconversão industrial deve ser um desafio para os setores tradicionais da economia, estimulando a necessidade de eles alinharem a oferta e os produtos com a reconfiguração das cadeias logísticas, explorarem a impressão 3D, corporizarem os avanços na ciência de materiais e nas nanotecnologias. Proteger a sociedade e a sua saúde assenta também na gestão eficaz dos materiais e dos produtos já mobilizados na economia, minimizando a extração e reduzindo a deposição final de resíduos, e na valorização dos recursos humanos associados.
(...) Existem ainda avanços científicos que não atingiram o mercado, mas que têm forte potencial para o futuro e onde o país pode explorar vantagens competitivas e competências endógenas, por exemplo na aquacultura do salmão do Atlântico (que tem condições de salinidade, temperatura e outras variáveis que são ideais); plataformas de energia das ondas (concatenando as valências nacionais da metalomecânica e a fabricação de bens de equipamento e máquinas); células fotovoltaicas e baterias Redox solares (tendo em conta a importância da energia solar para o Século XXI); eletrónica do papel; equipamentos de produção com tecnologias aditivas ou híbridas e com forte aplicação em setores como os moldes ou a fundição.
Fomento à engenharia de produto:
É preciso produzir produtos internacionalmente inovadores e na fase ascendente do seu ciclo. O país também pode colaborar no desenvolvimento de produtos multinacionais, mas é crucial assegurar que se localizem em Portugal fases de desenvolvimento relevantes e com valor acrescentado. Quando olhamos hoje para o tecido produtivo português, há muitas empresas que têm apostado e tirado partido do desenvolvimento da ciência e tecnologia e que têm tido resultados importantes no mercado, tendo condições para vir a ser grandes players internacionais, como a Hovione, a Bial, a Fertiprado, a Siscog, a Critical Software, a Outsystems, a Vision-box, a CEI, a Bend, a Tekever, a Veniam e muitas mais. O país tem competências tecnológicas em áreas de ponta, que vão do software e eletrónica, às redes de comunicação móvel, à ciência dos materiais, às tecnologias digitais, à engenharia aeronáutica, à eletrónica de alta precisão, à eletrónica de papel, biotecnologias, ciências de saúde, fabricação de medicamentos e muitas outras. Com uma política industrial clara e orientada para a fabricação de bens transacionáveis, alinhada com as tecnologias que vão formatar o futuro, o país pode criar uma nova geração de empresas que têm potencial para se converterem em campeões globais.
Promoção do cluster do hidrogénio verde:
Devem também manter-se os esforços que têm vindo a ser desenvolvidos na dinamização de um cluster do hidrogénio em Portugal. Pretende-se tornar o hidrogénio numa das soluções para a descarbonização da economia, ao mesmo tempo que se promove uma nova fileira industrial com potencial exportador e gerador de investimento, emprego e riqueza, promovendo uma política industrial em torno deste vetor energético. As tecnologias do hidrogénio ainda não estão maduras do ponto de vista da sua aplicação comercial, e é importante reduzir os custos de produção, em particular da eletrólise da água, como é reconhecido pela Agência Internacional de Energia. No entanto, as tecnologias têm evoluído significativamente, o processo de redução de custos está a acontecer, o potencial é enorme e existe uma aposta clara da União Europeia para o desenvolvimento da fileira do hidrogénio como gás renovável. Neste contexto, a aposta de Portugal no hidrogénio faz todo o sentido. O hidrogénio, produzido a partir da eletrólise da água, é um gás renovável, complementa e serve de backup ao cluster das energias renováveis, pode substituir parte do gás natural importado ao ser injetado na rede nacional existente, pode competir também no setor da mobilidade em várias fileiras, em particular no transporte de longa distância, e pode abastecer parte das necessidades da indústria petroquímica nacional, que usa gás natural como matéria prima. No âmbito da reindustrialização do país e da reconversão industrial, o cluster do hidrogénio pode ampliar a produção nacional de energias renováveis e dar-lhe maior dimensão ao mesmo tempo que substitui importações, utiliza a infraestrutura existente e pode ainda converter-se num sério componente estratégico do armazenamento de energia no futuro.
(...) Apesar das tecnologias de produção do hidrogénio ainda não terem atingido a maturidade comercial e enfrentarem um desafio para a redução dos custos de produção, a importância do hidrogénio para o futuro mix energético deve ser reconhecida. O hidrogénio é um portador de energia de elevada densidade, o que lhe permite ser uma solução para processos industrias intensivos, armazenar energia produzida através de fontes renováveis e possibilitar o surgimento de outros combustíveis de base renovável, contribuindo para potenciar o cumprimento dos objetivos nacionais de incorporação de fontes renováveis no consumo final de energia e para a descarbonização. Neste sentido, o hidrogénio pode ser também uma solução para a descarbonização de algumas das indústrias que têm maior dificuldade em fazê-lo, como as siderurgias, as cimenteiras e as indústrias químicas.
(...) Depois de todos os desenvolvimentos que aconteceram em Portugal ao nível das empresas, dos projetos de demonstração e protótipos, do envolvimento dos Centros Tecnológicos e das Universidades, e das Políticas Públicas que estão anunciadas, é agora crucial dar os passos para criar o mercado nacional do hidrogénio. Para isso é importante ter em conta que o hidrogénio já existe com aplicação industrial como matéria prima da indústria petroquímica e por isso é possível, através de regulação a ser ponderada e desenhada, estabelecer uma certa percentagem de hidrogénio renovável que a indústria petroquímica deve utilizar. É também importante regulamentar uma certa percentagem de hidrogénio renovável que deve ser injetado na rede nacional de gás natural. Estas regras podem estimular as empresas nacionais de hidrogénio para passarem à fase de produção industrial, dando-lhes escala e fazendo mover o sistema na direção certa com maior consumo de produtos nacionais renováveis e maior progresso nas metas da descarbonização.
Aproveitamento dos recursos minerais do país:
Para a reindustrialização é também importante mapear os recursos endógenos, incluindo os que possam ser obtidos da tecnosfera. Assim, tirando partido das condições favoráveis do nosso mercado laboral, deve relançar-se os esforços para atrair e estabelecer parte da cadeia produtiva de componentes tecnológicos necessários para a indústria das energias renováveis em Portugal, tirando partido da clara aposta de crescimento deste segmento de mercado nas próximas décadas, para dar resposta aos objetivos estabelecidos.
(...) O país tem recursos minerais estratégicos, como o lítio, o nióbio, o tântalo e as terras raras, e na ZEE, o cobalto, níquel, manganês, sulfuretos polimetálicos. São necessários uma visão e um plano para construir parcerias nacionais e internacionais e atrair investimento estrangeiro. Isto é possível porque muitos destes recursos são indispensáveis para a transição energética, para a eletrónica de alta precisão, para a indústria dos computadores e para a fabricação de equipamentos e máquinas. Portugal tem três minas metálicas em produção (Neves-Corvo, Aljustrel e Panasqueira), que são responsáveis, em mais de 50%, pelo valor das exportações portuguesas em recursos minerais. Mas o país tem também os minerais para a construção civil (mais de 37% do valor das exportações), sendo que os minerais industriais só representam cerca de 5%. Este valor pode crescer muito, desde que seja assegurada a sustentabilidade ambiental das explorações, porque o potencial das províncias metalogenéticas portuguesas é grande, e é necessário um programa de investimento para alavancar esse potencial. (...) A reativação da indústria mineira em Portugal só faz sentido hoje no quadro de economia eco-eficiente, de baixa intensidade carbónica e com base em tecnologias digitais massificadas e em práticas de reutilização, reciclagem e substituição. A atividade industrial mineira tem de ser responsável e tecnologicamente evoluída e alinhada com os paradigmas emergentes da sustentabilidade.
Ao mesmo tempo deve assegurar-se e apoiar a instalação de indústrias transformadoras adjacentes, desenvolvendo também a indústria para a recuperação e reciclagem destas matérias primas numa ótica de economia circular em articulação com organismos públicos, universidades e centros de investigação que atualmente já se encontram a desenvolver projetos de investigação para a avaliação dos conteúdos em terras raras em resíduos sólidos ou líquidos e de processos de recuperação destes materiais com potencial uso posterior.
(...) Por outro lado, tanto no território continental como na sua ZEE, com a extensão da plataforma continental, Portugal tem reservas de minerais estratégicos e vitais para a transição energética (no continente lítio, nióbio, tântalo e terras raras; a norte dos Açores crostas de níquel, cobalto e manganês e a sul dos Açores uma das maiores manchas de sulfuretos polimetálicos do mundo; ocorrência de ouro, prata, cobre, zinco e chumbo nos campos hidrotermais da Fratura Dorsal Atlântica, nos Açores).4 Não podemos ter uma civilização tecnológica avançada e pensar que não precisamos de recursos minerais estratégicos. Precisamos e o seu controlo é decisivo para a evolução geopolítica do século XXI.
Para se alcançar um futuro de baixo-carbono, haverá necessariamente um aumento substancial na procura de matérias primas minerais fundamentais para a fabricação de tecnologias de energias mais limpas (solar, eólica) e para a eletrónica de alta precisão. É esta a conclusão do último relatório do Banco Mundial (The Growing Role of Minerals and Metals for a Low Carbon Future). A transição energética implicará um aumento exponencial da procura de matérias-primas minerais estratégicas, em relação à produção atual, como Lítio (965%), Cobalto (585%), Grafite (383%), Indio (241%).
(...) Sendo certo que as novas descobertas serão em ambientes geológicos mais complexos e a profundidades maiores, é fundamental o investimento nas novas tecnologias de mineração, com particular relevo para técnicas de prospeção não-invasivas (i.e., métodos geofísicos amigos do ambiente para exploração em hard-rock), a automação, robótica e as tecnologias digital mining e smart mining que reduzem o consumo de energia, o consumo de água e minimizam os riscos ambientais.
(...) Portugal deve dar prioridade aos chamados minerais de alto impacto (aqueles que vão ter uma elevada procura na transição energética), como o Lítio, em duas linhas de ação principais: a prospeção para identificação de recursos exploráveis numa abordagem sustentável, e o planeamento da exploração (caso seja tomada a decisão política para avançar), envolvendo todos os stakeholders da cadeia produtiva mineral e garantindo a minimização dos impactes ambientais, pegada de água, redução de consumo de energia e investimento na reciclagem e na economia circular. Ou seja, é necessário implementar no terreno o conceito de blockchain (i.e., rastreamento da matéria prima desde a origem até ao destino final de forma a garantir a sustentabilidade de todos os processos). Os incentivos a estas duas linhas de ação devem ser ponderados e fruto de uma decisão política.
Portugal tem reservas e uma produção significativa dos chamados cross-cutting minerals, como o cobre e zinco (metais que não terão uma procura tão significativa na transição energética, mas terão sempre grande importância em todos os setores industriais que necessitam de matérias primas minerais).
(...) Os minerais estratégicos que se extraem dos sulfuretos polimetálico (como o chumbo, que se extrai da galena, o cobre que se extrai da calcopirite, ou o zinco, que se extrai da esfalerite), têm uma galáxia de aplicações que interessam a toda uma cadeia de indústrias.
Potenciação da economia circular e bioeconomia:
Este também é o momento para desenvolver e investir numa bioindústria nacional, que tenha potencial de se constituir como acelerador da economia nacional, através da produção de novos produtos de alto valor acrescentado, a partir da utilização em cascata dos recursos biológicos.
(...) No contexto da dependência de matérias primas oriundas do resto do mundo, a economia circular e a bioeconomia surgem, também, como uma oportunidade para fazer face aos desafios associados ao aumento da procura de matérias-primas. Estes dois modelos, que estão na base da elaboração de políticas que materializam os conceitos-chave de sustentabilidade, apresentam sinergias entre si, procurando responder às necessidades da sociedade assegurando, contudo, o respeito pelos limites da terra. De acordo com a Estratégia Europeia para a Bioeconomia, o potencial das bioindústrias poderá traduzir-se na criação de cerca de um milhão de novos postos de trabalho na Europa até 2030. Portugal, considerando o seu território terrestre e marítimo, dispõe, atualmente, de uma janela de oportunidade para se tornar líder na implementação da bioeconomia circular e sustentável a nível mundial.
(...) Na energia de fonte renovável, Portugal conta com um percurso notável, dispondo de potencial para alcançar a total descarbonização do Sistema Elétrico Nacional e fundamental para o posicionamento de Portugal na produção de hidrogénio verde. Adicionalmente, possui um forte setor primário na fileira florestal, agroalimentar, pesca e aquicultura (incluindo algas e microalgas) e know how científico suficiente para fazer emergir o nosso potencial em vários setores relacionados com a bioeconomia. Portugal tem ainda jurisdição sobre extenso território marítimo, dotando-o de elevadas condições de biodiversidade e disponibilidade de recursos de base biológica usufruindo, adicionalmente, de uma forte base científica nas ciências marinhas e biotecnológicas que poderão servir de base para a transformação bioeconómica das suas indústrias.
A UE depende em 90% do exterior para suprir os materiais críticos de que necessita internamente. Mais de metade do volume de negócios da indústria transformadora nacional é gasto na aquisição de
matérias primas. A prioridade deve, por isso, residir na regeneração desses materiais, que existem disponíveis na tecnosfera e à sua recuperação dentro da economia nacional, criando novas fileiras para uma indústria sustentada em modelos de economia circular.
(...) Esta nova abordagem virada para a bioeconomia sustentável deve considerar a digitalização (contribuindo para aumentar a eficiência dos processos produtivos e de utilização de biomassa) e os novos desenvolvimentos tecnológicos (nomeadamente a impressão 3D), novos produtos de base biológica e novos mercados, e mudanças industriais e organizacionais, tais como simbioses industriais. Os produtos e as cadeias de valor de base biológica têm sido identificados como um dos caminhos mais promissores para alcançar uma economia circular eficiente em termos de recursos. No que concerne ao meio marinho, as possibilidades são imensas, em termos da aquacultura, das tecnologias de processamento de energia, do uso de algas para substituir fertilizantes químicos, da biofarmacêutica para a fabricação de componentes para medicamentos, da criação de produtos biodegradáveis para substituir os plásticos, da criação de produtos de alta qualidade, de cosmética e de outras áreas da saúde, a partir de microalgas.
Existem também aplicações das biotecnologias na agricultura, com a criação de produtos biofertilizadores e bioestimulantes a partir de algas e microalgas, para regenerar os solos, estimular as colheitas e melhorar a produção. Estima-se que, ao nível nacional, a bioeconomia (que engloba a produção de recursos biológicos renováveis e a conversão destes recursos, resíduos, subprodutos e fluxos secundários, em produtos com valor acrescentado, nomeadamente, em alimentos, em produtos de base biológica, serviços e energia) represente cerca de 43 mil milhões de euros de volume de negócios e 320 mil postos de trabalho.
(...) A biomassa florestal, através da gaseificação e pirólise, pode servir para produzir hidrogénio e esta pode ser uma plataforma para se promoverem sinergias entre o cluster do hidrogénio e a floresta, dando escala à produção nacional e criando no território pequenos projetos industriais que podem funcionar como âncoras para o desenvolvimento do interior e para a coesão do território. É importante, para isso se materializar, continuar a promoção do emparcelamento dos minifúndios e a reordenação do território e da floresta.
(...) O mar oferece oportunidades para se desenvolverem novos motores da economia através da exploração sustentável dos recursos marinhos e pode abrir novas janelas para o futuro a um conjunto de empresas que se debatem para encontrar o seu caminho. As empresas portuguesas que atuam no setor marinho podem servir de plataforma de desenvolvimento de novas áreas como as biotecnologias, a indústria alimentar, os biocombustíveis (baseados nas algas e microalgas, onde Portugal tem vantagens reconhecidas), a indústria farmacêutica e as ciências da saúde), a indústria cosmética.
Descarbonização da indústria nacional:
Este é o momento para garantir uma maior eficiência na gestão da energia e dos recursos, assegurar a descarbonização dos processos industriais e adotar modelos de economia circular, estabelecendo simbioses industriais que permitam tornar a indústria nacional mais competitiva e, ao mesmo tempo, mais sustentável. Neste quadro, preconizam-se, por um lado, o desenvolvimento de Roteiros Setoriais para a Descarbonização da indústria, que podem assumir um papel de destaque, ao abordar as oportunidades e desafios que cada setor enfrenta. Por outro lado, a criação de incentivos à eficiência energética e de recursos, à eletrificação, à incorporação de hidrogénio renovável, a processos de baixo carbono e à incorporação de modelos de economia circular, em linha com o identificado nos respetivos Roteiros, promovendo a transição justa e apoiando aqueles para quem esta transição apresente maiores desafios, em linha com o Plano para a Transição Justa. Subprogramas específicos devem ser criados para algumas das indústrias mais poluentes, como as cimenteiras, siderurgias e petroquímicas, alavancando as competências nacionais em I&D em processos novos para a fabricação de cimentos e outros produtos, que podem reduzir substancialmente as emissões de CO₂ destas indústrias. Em particular, na fabricação de cimentos, os novos processos tecnológicos com base na fusão e na eletrificação, reduzem as emissões de CO₂ em cerca de 2/3 e têm um potencial que deve ser explorado, com base também na venda do conhecimento e da tecnologia. As cimenteiras têm feito um caminho – que deve ser acelerado - no sentido da descarbonização, que passa também pelo aumento do coprocessamento de resíduos, a preparação dos fornos para o uso de gás natural ou hidrogénio (muito menos poluentes), a substituição do clinquer por outros materiais, a eletrificação dos processos industriais e a aposta em tecnologias de rutura, como o pure oxifuel ou o Laylac. Na área das siderurgias, a passagem do alto forno para o forno elétrico reduziu drasticamente as emissões, e a utilização crescente de energias renováveis pela indústria vai consolidar este caminho. No que concerne à indústria petroquímica, a utilização do hidrogénio renovável como matéria-prima pode contribuir para a descarbonização. O desenvolvimento de todos estes projetos pode ser marcante para consolidar o processo de descarbonização de algumas das indústrias mais poluentes do país.