Sobre a importância do modelo conceptual no bom design de um produto, e um exemplo prático no controlo de temperatura de frigoríficos (geladeira)

Para as coisas do dia a dia, os modelos conceptuais não precisam ser muito complexos. Afinal, tesouras, canetas e interruptores de luz são dispositivos bastante simples. Não há necessidade de entender a física ou química subjacente a cada dispositivo que possuimos, apenas a relação entre os controlos e os resultados. Quando o modelo que nos é apresentado é inadequado ou errado (ou pior, inexistente), podemos ter dificuldades. Deixe-me falar sobre o meu frigorífico (geladeira).

Eu costumava ter um frigorífico comum, com dois compartimentos - considerando-o muito sofisticado. O problema era que eu não conseguia ajustar a temperatura do compartimento da congelador (freezer) nem ajustar a temperatura do compartimento de alimentos frescos. E havia dois controlos, um rotulado congelador ("freezer") e o outro frigogorífico ("refrigerator"). Qual o problema? Oh, talvez, seja melhor eu avisa-lo. Os dois controles não são independentes. O controle do freezer também afeta a temperatura dos alimentos frescos, e o controle dos alimentos frescos também afeta o freezer. Além disso, o manual alerta que "sempre se deve aguardar vinte e quatro (24) horas para que a temperatura estabilize, seja definido os controlos pela primeira vez ou fazendo um ajuste".

Modelo conceptual sugerido pelos controlos (A), e modelo conceptual real (B). Fonte

Era extremamente difícil regular a temperatura do meu velho frigorífico. Porquê? Porque os controlos sugerem um modelo conceitual falso. Dois compartimentos, dois controles, o que implica que cada controle é responsável pela temperatura do compartimento que leva seu nome [situação A na figura abaixo]. (...) Está errado. Na verdade, existe apenas um termostato e apenas um mecanismo de arrefecimento [situação B, na figura abaixo].Um controlo ajusta a configuração do termostato, o outro a proporção relativa de ar frio enviado a cada um dos dois compartimentos do frigorífico. É por isso que os dois controlos interagem. Além disso, deve haver um sensor de temperatura mas não há como saber onde está localizado. Com o modelo conceitual sugerido pelos controlos, ajustar as temperaturas é quase impossível  e sempre frustrante. Com o modelo correto, a vida seria muito mais fácil.

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Fonte: D. Norman, The design of everyday things, Basic Books, 2013