A forma como os fornos de micro-ondas são utilizados pelos consumidores em suas residências tem se mostrado um fator chave na formação de subprodutos e consequentemente na segurança dos alimentos embalados.
(…) No caso do aquecimento por micro-ondas, a regulamentação tem em consideração o impacto das altas temperaturas nos fenómenos de migração, mas não na formação de subprodutos. Ou seja, as temperaturas muito altas (350-450 ºC) que os materiais de embalagem podem atingir durante o uso de susceptores, ou seja, materiais usados para dourar os alimentos (Nerín, Fernández, Domeño, & Salafranca, 2003).
(…) O efeito do aquecimento por micro-ondas na migração de compostos químicos dos materiais poliméricos para diferentes tipos de alimentos é importante no que diz respeito à seleção e fabricação de materiais de embalagem adequados para uso em micro-ondas (Bhunia, Sablani, Tang, & Rasco, 2013; Garrido-Lopez, Sancet, Montano, Gonzalez, & Tena, 2007; Jeon & Kim, 2000).
As microondas podem aumentar seletivamente a difusividade de aditivos pequenos e polares no polímero (Alin & Hakkarainen, 2011, 2012). Elas podem influenciar ainda mais a matriz polimérica, causando efeitos localizados de aquecimento pontual e a degradação, ou consumo, de aditivos incorporados.
EXEMPLO DO EFEITO DO MICROONDAS NA CONTAMINAÇÃO DE ALIMENTOS:
Devido à natureza desconhecida dos subprodutos (Grob et al., 2010) gerados por pós-tratamentos, uma abordagem puramente analítica baseada na identificação exaustiva ou quantificação de subprodutos pode ser muito difícil do ponto de vista experimental. Por esta razão, os materiais experimentais foram formulados usando um conjunto de três aditivos sintéticos totalmente conhecidos e criteriosamente escolhidos que são encontrados em 95% dos materiais comercializados. Esses aditivos foram adicionados ao material para reagir e assim foram identificados como importantes geradores de subprodutos. Tendo em vista a matriz polimérica alvo (polipropileno) e os pós-tratamentos identificados, o foco foi nos estabilizadores.
(...) Para facilitar a detecção dos produtos de degradação, três aditivos (Irgafos 168, Irganox 1076, Tinuvin 326) foram misturados numa concentração superior ao nível mais alto recomendado pela BASF, o produtor de aditivos ( respectivamente 3, 1,5 e 1,5% em massa. Como referência, foi preparado um filme sem aditivos. Todos os filmes foram envoltos em papel alumínio para evitar a absorção de contaminantes do ar ambiente.
(...) O tratamento por micro-ondas foi realizado em amostras preparadas como bandejas de PP preenchidas com água na razão volume de água (dm3)/superfície de PP em contato (dm2) de 0,14 dm de acordo com a Norma Francesa XP-ENV 1186. (…) Após a calibração do forno de micro-ondas, foram aplicadas potências de saída de 1100 ± 4 W e 796 ± 2 W. O tratamento foi interrompido quando a temperatura da água atingiu 95-100 C, correspondendo a tempos de contato de 7 min a 1100 W e 10 min a 800 W.
(...) Os tratamentos com micro-ondas (800 ou 1100 W) não levaram a alterações estruturais nos filmes de polipropileno estudados. No entanto, quimicamente falando, independentemente da potência utilizada, a análise GC-FID-MS indica a presença de novos produtos de degradação no filme (Irgafos 168 e Irganox 1076). Os tratamentos com feixe de elétrons (100 kGy) de filmes de polipropileno resultaram em mudanças químicas e estruturais muito maiores.
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Fonte: M. Riquet, C. Breysse, L. Dahbi, C. Loriot, I. Severin, M.C. Chagnon, The consequences of physical post-treatments (microwave and electron-beam) on food/packaging interactions: A physicochemical and toxicological approach, Food Chemistry 199 (2016) 59-69.