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Sobre o livro 'A Alquimia do Ar' e o pioneirismo industrial da empresa BASF (indigo, fertilizante sintético, leunabenzin) aos ombros de Fritz Haber e Carl Bosch

 


A Alquimia do Ar (do original: The alchemy of air) é um livro revelador sobre a infância da engenharia química quando ainda nem existia como disciplina oficialmente apesar da sua vocação industrial já ser inequívoca na congregação de saberes, e logo num papel de tremenda importância: a de salvadora da morte certa de milhões de pessoas por uma prevista falta de alimento no mundo; tema que serviu igualmente como escudo e respaldo da defesa militar alemã nas duas guerras mundiais, inclusive ao regime de Hitler.

Vamos por partes: todos temos obrigação de conhecer a BASF, essa gigante industrial que se arroga A empresa química. Pois bem, ela esteve associada, em sequência a três desenvolvimentos altamente importantes: a síntese do corante têxtil indigo, o primeiro fertilizante azotado sintético, e o combustível líquido a partir de carvão designado por leunabenzin.

Com o corante indigo a BASF arriscou muito e acabou por enriquecer e validar a a sua capacidade de inovar via investigação. Com o fertilizante, a BASF fez a proeza de ser pioneira no primeiro processo industrial de pressões e temperaturas impensavelmente altas, feito a escala impensavelmente elevada, para produzir amoníaco. Este mesmo processo desdobrou-se em fábrica de fertilizantes em tempo de paz, e fábrica de explosivos em tempo de guerra. Permitiu fabricar os explosivos necessários para aguentar a Alemanha na primeira guerra mundial mais anos do que seria natural sem ela. Por trás deste feito esteve o judeu convertido Fritz Haber e o artíficie alemão Carl Bosch. Juntos levaram a engenharia industrial de processos químicos a novas escalas e gamas de operação, e retiraram à humanidade a incerteza quanto à disponibilidade agrícola de alimento para matar a fome às massas. Ambos foram Nobel da química, Haber pela invenção em 1918, e Bosch em 1931 pela operacionalização industrial da invenção de Haber a grande escala.

A BASF viria a fundir-se na Farben IG, e viria a sofrer os revés da instrumentalização pelo regime nazi, desde logo porque o grande projeto da Farben - alicerçado no sucesso e fulgor financeiro dados pelos fertilizantes produzidos no processo Haber-Bosch - foi a produção de combustível líquido para motores de combustão a partir de carvão, de modo a tornar a Alemanha autossuficiente deste produto. O tema era estratégico dada a falta de acesso directo a petróleo pelos alemães, e o risco de poder incorrer em debilidades económicas e militares no caso de embargos comerciais em períodos de guerra.

Os dois homens-chave desta história acabaram por ter destinos inglórios: Fritz Haber foi denunciado como judeu e acabou por sair à força da Alemanha que tanto ajudou a catapultar e erguer/reerguer; e Carl Bosch sucumbiu ante a sua posição anti-nazi e perante o sumidouro de precioso dinheiro que se revelou o projeto da leunabenzin.

 A Alquimia do Ar é uma leitura imprescindível para perceber como a indústria alemã catalisou a química industrial mundial, e como a inovação em química deve ser visto como estratégia por países que não detêm recursos naturais e energéticos suficientes para viverem à sombra dos rendimentos sobre estes.