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Sobre a contaminação de meios aquáticos com mercúrio, a japonesa Chisso Corporation, o trágico desastre de Minamata, e o tributo de Holywood ao tema


O risco para a saúde humana e dos ecossistemas associado à contaminação de mercúrio na água é maximizado pelo fenómenos da bioacumulação deste metal pela fauna e flora subaquática. Este problema emergiu o longo do século XX da forma mais indesejável possível: pelo aparecimento de graves doenças, mortes e complicações de saúde em populações particularmente expostas ao consumo de peixe em águas contaminadas com mercúrio. Nesta publicação abordamos o ciclo do mercúrio nos meios aquáticos, mostrando-se que é pela boca que 'bioacumula mercúrio' o peixe. Falamos também do desastre de Minamata, no Japão, como um expoente máximo dos problemas que a contaminação com mercúrio pode provocar .

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 O problema do mercúrio nos meios aquáticos

O mercúrio é um poluente generalizado que se acumula nos organismos e é altamente tóxico. Como resultado, é provavelmente o mais estudado de todos os elementos vestigiais encontrados no meio ambiente.

(...) As fontes antropogénicas [por ação humano] de mercúrio vêm da produção de metal, cloro-álcalis e indústrias de celulose, manuseio e tratamento de resíduos e carvão, turfa e combustão de madeira (43). Os inputs naturais para a atmosfera incluem a desgaseificação e arrastamento pelo vento de partículas de poeira da terra, principalmente de áreas mercuríferas, erupções vulcânicas, incêndios florestais, emissões biogénicas de compostos voláteis e particulados e desgaseificação a partir de superfícies de água (63). Entre essas fontes, a desgaseificação de formações geológicas naturais ricas em mercúrio pode ter sido subestimada no passado (30, 31, 63). Com base em registos de sedimentos de lagos (77), estima-se que as entradas atmosféricas de mercúrio triplicaram nos últimos 150 anos (46). Isso indica que dois terços do mercúrio agora na atmosfera e, portanto, na superfície da água do mar, são de origem antropogénica e um terço é de fontes naturais.

(...) O Hg dissolvido é distribuído em várias formas químicas: mercúrio elementar (Hg0 (aq)), que é volátil, mas relativamente não reativo, várias espécies mercúricas (Hg(II)) e mercúrio orgânico, principalmente metil (MeHg ), dimetil (Me2Hg) e algum etil (EtHg) mercúrio.1 Em geral, e particularmente em sistemas estratificados, as concentrações de Hg0 são maiores perto da interface ar-água, enquanto os níveis de Hg total e MeHg são maiores perto dos sedimentos.


(...) No caso dos peixes, parece haver uma alta especificidade da parede do intestino para a absorção do MeHg. Em contraste, o Hg inorgânico é adsorvido na interface das microvilosidades, resultando numa taxa de captação muito baixa (15). Como resultado, a proporção média de MeHg sobre o Hg total aumenta de cerca de 10% em coluna d'água para 15% no fitoplâncton, 30% no zooplâncton e 95% nos peixes (80). O acúmulo de MeHg em organismos superiores resulta principalmente da ingestão de alimentos contendo MeHg, em vez da absorção direta de MeHg da água. A estrutura da teia alimentar determina a eficiência da transferência de algas para predadores de topo.

Fonte: F.M. M. Morel,  A.M.L. Kraepiel, M. Amyot, The chemical cycle and bioaccumulation of mercury, Annual Review of Ecology and Systematics  29:1 (1998) 543-566.

 

A japonesa Chisso Corporation e uma terrível mácula inicial no percurso industrial por envenenamento com mercúrio 



Fundada em 1906 a Chisso Corporation é uma empresa industrial japonesa que desde 2011 hoje dá pelo nome de JNC Corporation. 

O arranque desta história remete para a criação da Sogi Electric COmpany, cuja atividade em 1906 era de produzir  energia renovável por via hidroelétrico. 

Dois anos depois, a empresa muda a sua designação para NIPPON CHISSO HIRYO K.K, e dá início à produção de cianamida de cálcio pelo processo de fixação de azoto (BR: nitrogênio) atmosférico na fábrica de Minamata.

Embora o grupo tenha depois diversificado muito as suas atividades industriais, a sua existência fica marcada por um grave problema ambiental e de saúde, que ficou conhecido como o Desastre de Minamata, e que culminou em centenas de mortes, malformações e complicações de saúde em populações humanas que consumiram peixe da baía para onde a empresa despejava efluentes contendo mercúrio. 

Não obstante a mácula inicial na sua história, a Chisso/JNCvários produziu desde então uma míriade de produtos importantes: 

  1. novas de unidades de produção de energia elétrica (1914, 1944, 2019), 
  2. amoníaco (1923), 
  3. cloreto de polivinil (1941), 
  4. sultato de amónia (1945), 
  5. octanol (1955), 
  6. dioctil ftalato (1952), 
  7. acetato staple (1952), 
  8. silício metálico (1959), 
  9. polipropileno (1963, 1987), 
  10. polietileno de alta densidade (1969), 
  11. cristais líquidos (1973, 1999), 
  12. compósitos thermo-bonding (1974); 
  13. compostos orgânicos de silício (1980), 
  14. gel de celulose Cellufine (1981), 
  15. polilisina (1984); 
  16. ácido hialurónico (1984), 
  17. ecrãs de LCD (2005), 
  18. filme protetor de tintas (2018), 
  19. díodo de emissão de luz (2019), 
  20. máscaras protetoras (2020).

Fonte: JNC Corporation


'O Fotógrafo de Minamata': Holywood presta o seu tributo em 2021 ao trágico Desastre de Minamata

W. Eugene Smith (Johnny Depp) ganhou fama a fotografar nas linhas da frente durante a Segunda Guerra Mundial, mas agora vive como um solitário, desligado da sociedade e da sua carreira. Quando o editor da Life Magazine lhe pede ajuda para expor um grande escândalo, ele volta ao Japão para revelar ao mundo a realidade dos residentes de Minamata, uma cidade do litoral em que a comunidade está a ser envenenada por mercúrio. Baseado numa história verídica impactante, um relato libertador e comovente de triunfo sobre a adversidade.




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