O risco para a saúde humana e dos ecossistemas associado à contaminação de mercúrio na água é maximizado pelo fenómenos da bioacumulação deste metal pela fauna e flora subaquática. Este problema emergiu o longo do século XX da forma mais indesejável possível: pelo aparecimento de graves doenças, mortes e complicações de saúde em populações particularmente expostas ao consumo de peixe em águas contaminadas com mercúrio. Nesta publicação abordamos o ciclo do mercúrio nos meios aquáticos, mostrando-se que é pela boca que 'bioacumula mercúrio' o peixe. Falamos também do desastre de Minamata, no Japão, como um expoente máximo dos problemas que a contaminação com mercúrio pode provocar .
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O problema do mercúrio nos meios aquáticos
(...) No caso dos peixes, parece haver uma alta especificidade da parede do intestino para a absorção do MeHg. Em contraste, o Hg inorgânico é adsorvido na interface das microvilosidades, resultando numa taxa de captação muito baixa (15). Como resultado, a proporção média de MeHg sobre o Hg total aumenta de cerca de 10% em coluna d'água para 15% no fitoplâncton, 30% no zooplâncton e 95% nos peixes (80). O acúmulo de MeHg em organismos superiores resulta principalmente da ingestão de alimentos contendo MeHg, em vez da absorção direta de MeHg da água. A estrutura da teia alimentar determina a eficiência da transferência de algas para predadores de topo.
Fonte: F.M. M. Morel, A.M.L. Kraepiel, M. Amyot, The chemical cycle and bioaccumulation of mercury, Annual Review of Ecology and Systematics 29:1 (1998) 543-566.
A japonesa Chisso Corporation e uma terrível mácula inicial no percurso industrial por envenenamento com mercúrio
Fundada em 1906 a Chisso Corporation é uma empresa industrial japonesa que desde 2011 hoje dá pelo nome de JNC Corporation.
O arranque desta história remete para a criação da Sogi Electric COmpany, cuja atividade em 1906 era de produzir energia renovável por via hidroelétrico.
Dois anos depois, a empresa muda a sua designação para NIPPON CHISSO HIRYO K.K, e dá início à produção de cianamida de cálcio pelo processo de fixação de azoto (BR: nitrogênio) atmosférico na fábrica de Minamata.
Embora o grupo tenha depois diversificado muito as suas atividades industriais, a sua existência fica marcada por um grave problema ambiental e de saúde, que ficou conhecido como o Desastre de Minamata, e que culminou em centenas de mortes, malformações e complicações de saúde em populações humanas que consumiram peixe da baía para onde a empresa despejava efluentes contendo mercúrio.
Não obstante a mácula inicial na sua história, a Chisso/JNCvários produziu desde então uma míriade de produtos importantes:
- novas de unidades de produção de energia elétrica (1914, 1944, 2019),
- amoníaco (1923),
- cloreto de polivinil (1941),
- sultato de amónia (1945),
- octanol (1955),
- dioctil ftalato (1952),
- acetato staple (1952),
- silício metálico (1959),
- polipropileno (1963, 1987),
- polietileno de alta densidade (1969),
- cristais líquidos (1973, 1999),
- compósitos thermo-bonding (1974);
- compostos orgânicos de silício (1980),
- gel de celulose Cellufine (1981),
- polilisina (1984);
- ácido hialurónico (1984),
- ecrãs de LCD (2005),
- filme protetor de tintas (2018),
- díodo de emissão de luz (2019),
- máscaras protetoras (2020).
Fonte: JNC Corporation
'O Fotógrafo de Minamata': Holywood presta o seu tributo em 2021 ao trágico Desastre de Minamata
W. Eugene Smith (Johnny Depp) ganhou fama a fotografar nas linhas da frente durante a Segunda Guerra Mundial, mas agora vive como um solitário, desligado da sociedade e da sua carreira. Quando o editor da Life Magazine lhe pede ajuda para expor um grande escândalo, ele volta ao Japão para revelar ao mundo a realidade dos residentes de Minamata, uma cidade do litoral em que a comunidade está a ser envenenada por mercúrio. Baseado numa história verídica impactante, um relato libertador e comovente de triunfo sobre a adversidade.
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