"Segundo o Mapa Geral Estatístico, a seguir às invasões francesas existiriam 509 fábricas [em Portugal], mas a verdade é que a grande maioria dos estabelecimentos anotados como tais não merece essa designação.
É preciso não esquecer que, do ponto de vista científico, não se pode considerar fábrica qualquer estabelecimento industrial, empregando um número maior ou menor de operários. Nem sequer nos podemos socorrer dum critério assente no número de operários utilizados para conhecer a importância económica dum estabelecimento industrial e a sua categoria.
(...) A fim de se estar em face duma indústria fabril em larga escala é necessário que exista um certo número de caracteres, o mais destacado dos quais é, sem dúvida, a utilização, no processo produtivo, dum sistema de máquinas. Isto é que caracteriza ter-se ultrapassado a fase da manufactura, o que implica uma transformação radical na estruturação das classes sociais, transformação baseada nessa revolução técnica; implica a definição clara dos grupos sociais que tomam parte na produção, quer diretamente quer devido ao controle dos meios de produção.
(...) É efectivamente com a Revolução Industrial que surgem as grandes instalações constituindo unidades orgânicas de produção empregando máquinas e recorrendo a tipos de energia motriz muito mais potentes, duma mobilidade, «divisibilidade» e controlo muito superiores a tudo quanto era imaginável com as antiquíssimas fontes energéticas, utilizadas pelo homem: as energias eólica, hidráulica, animal, além da fornecida por ele próprio como força motriz do processo laboral. "
Fonte: A. Castro, A Revolução Industrial em Portugal no Século XIX, Limiar, 1978