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Sobre o livro 'Poções e Paixões: Química e Ópera' de João Paulo André, e a compreensão da química pelos olhos da ópera, e da ópera pelos olhos da química




Quando se procuram referências à História da Química e da Engenharia Química em língua portuguesa, a oferta pode pecar por escassa. Não só não existe muito material originalmente escrito na nossa língua ou até traduzido, como o que há nem sempre é recente e pode ser lido sem uma preparação técnica prévia que permita captar e entender o seu conteúdo. A divulgação desta nossa ciência junto do cidadão comum não se faz com livros técnicos, ficando à mercê dos poucos que se aventurem a tricotar texto que interligue o modo como a química há séculos (e nalguns casos milénios) influencia e se deixa influenciar pelas sociedades. Este diálogo ocorre não apenas no que diz respeito ao legado de conhecimentos disponíveis em cada momento, como também às oportunidades abertas por novos produtos e tecnologias nos variados quadrantes da atividade humana.

É neste contexto específico que a recente iniciativa literária de João Paulo André (Professor Auxiliar na Escola de Ciências da Universidade do Minho), intitulada Poções e Paixões: Química e Ópera, pode e deve ser saudada no contexto da literatura e da engenharia química portuguesa, pela enorme criatividade com que casou a evolução e contributos da química com a ópera e sua história. Não se antecipando uma tarefa fácil, André conseguiu sistematizar o assunto dividindo-o em tópicos como alquimia, metais, botânica, bebidas, radioatividade, etc, os quais são alimentados quer do lado artístico (enredos das óperas, seus criadores, etc) quer do lado científico, através de explicações (nunca demasiado pesadas) sobre a pertinência e implicações de determinados aspetos relacionados com química. Pelo meio muita história é percorrida e curiosidades várias são apresentadas.

Finda a leitura desta obra, fica na retina uma muito bem sucedida e erudita conjugação de dois mundos muito remotamente emparelhados e discutidos como irmãos. Não sendo Portugal (ou o Brasil) países com tradição e cultura operática, isso não deve servir de impedimento à compreensão da química pelos olhos da ópera, e da ópera pelos olhos da química. E se com essa experiência a curiosidade pelo universo da ópera puder surgir no horizonte, o leitor encontra no livro 'Poções e Paixões' inúmeras sugestões de produções operáticas centradas no tema da química e engenharia química, tais como aquelas em torno da Revolução Industrial ou dos contributos de Maria Curie para a humanidade.

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Este livro foi adicionado à seção Livros do BEQ, onde se apresentam sugestões de leitura recreativa para engenheiros químicos.