A Forensic Architecture (FA) é uma agência de pesquisa sediada em Goldsmiths, Universidade de Londres, que realiza investigações espaciais e de multimédia avançadas. Um dos trabalho que teve em mãos foi o de decifrar as explosões no porto de Beirute em 2020, recorrendo para isso a informações open source, nomeadamente vídeos amadores, fotografias, e documentos. O assunto não teria especial relevância para o tema de EQ, não fosse o facto de que a análise da FA incidiu no mapeamento do fumo libertado antes e durante a forte explosão, na tentativa de inferir a natureza química dos materiais armazenados, a sua quantidade e a sua localização relativa no interior das instalações do armazém.
O início do acidente é marcado por cortinas de fumo (smoke plumes) na extremidade nordeste do armazém. O aspeto da cortina de fumo e a fonte de calor sugere que o fogo foi evoluindo espacialmente, tomando toda a zona norte. A determinado momento o fumo fica mais intenso e começa a adquirir uma tonalidade mais escura, sugerindo que o material alvo da combustão passou a ser outro. Depois, os vídeos amadores mostram o surgimento do que parece ser a queima de material pirotécnico. Segue-se uma explosão súbita com aspeto esférico, o que sugere que o foco desta explosão se concentra num único ponto, algures numa posição central do edifício, e que posivelmente corresponde a nitrato de amónio armazenado lá dentro. Na sequência desta exlosão surge uma enorme cortina de fumo avermelhado, com 755 metros de altura. Esta é a quarta cortina de fumo que surge no espaço de 14 minutos de incêndio, imanada de diferentes partes do armazém.

Coluna de fumo avermelhado com 755 metros de altura.
A análise a documentação sobre a mercadoria nitrato de amónio naquele porto dá conta de sucessivos alertas para os perigo envolvido, alertando para uma melhor acomodação desta carga. Um alerta mais específico falava de 75 % dos sacos de nitrato de amónio encontrarem-se abertos e com um escurecimento dos seus cristais. Análises posteriores concluíram que as mercadorias e respetivas quantidades contidas neste armazém seriam de 2750 ton de nitrato de amónio, 23 ton de fogo de artifício, 50 ton de fosfato de amónio, 5 ton de café e chá, 5 rolos de corda de detonação lenta, e ainda 1000 pneus de automóvel. Cada um destes materiais arde de modo diferente. A combustão de pneus, por exemplo, produz uma cortina de fumo preta intensa, que condiz com as imagens iniciais na zona norte do armazém. Também o material pirotécnico se situaria nesta zona do armazém. Já sobre o nitrato de amónio, é sabido que a sua denotação é facilitada caso se encontre confinado e contaminado, sendo recomendado pelas normas o seu armazenamento isolado de demais produtos, e em quantidades individuais não superiores a 300-850 ton, com espaçamento de 1 metro entre recipientes individuais, e a uma distância de edifícios residenciais superior a 850 m