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Sobre o livro "Os prazeres existenciais da engenharia" (Samuel C. Florman), em torno da dimensão espiritual e social de ser um profissional de engenharia



O livro The Existential Pleasures of Engineering - escrito pelo engenheiro civil norte-americano Samuel C. Florman, e publicado originalmente em 1976 – pouco ou nada tem de específico sobre engenharia química, mas consegue ainda assim dizer muito ao engenheiro químico por via do que este tem em comum com a classe profissional e área de saber que é a engenharia.

A leitura deste livro muito se recomenda àqueles que sintam curiosidade ou interesse pela relação da classe profissional engenharia com a sociedade em geral, nomeadamente com os problemas que a civilização ao longo dos séculos precisou e precisa de ver solucionados, mas também no que diz respeito ao modo como as sociedades vêm e percecionam os impactos da engenharia, industrialização e/ou tecnologia.

De modo sucinto, e sem presunção de substituir a sua leitura, o livro contempla temas como os seguintes:

  • A ascensão e posterior declínio da euforia em torno dos avanços proporcionados pela engenharia ao longo dos séculos XX e XXI;
  • O surgimento e argumentário dos movimentos antitecnologia, cavalgando sobre os falhanços e negligências que a tecnologia, engenharia e industrialização inevitavelmente acarretaram e acarretam;
  • Comenta o confronto cliché da mente racional vs. irracional, repudiando que o engenheiro não tenha ou possa ter uma relação e postura conciliável com as artes e a criatividade;
  • Aborda a problemática da falta de uma voz única e clara dentro da engenharia, pelo modo como esta se preserva plural quanto à forma de estar e resolver os problemas;
  • Refere a falta de expressividade e fulgor dos engenheiros na explicação do prazer associado a estudar e exercer a sua profissão e ramo de engenharia;
  • Questiona o culto à artesanalidade do passado e reforça a pertinência no progresso tecnológico, mostrando como quer no texto clássico da Odisseia (Homero) como no Antigo Testamento (Bíblia), abundam referências e menções de interesse sobre o materiais, tecnologias e objetos;
  • Uma crítica ao movimento small is beautiful (“pequeno é belo”), mostrando que é insustentável e contraproducente abandonar ideologicamente a escalabilidade quando esta é manifestamente vantajosa e mais segura;
  • O papel da maior paridade de género na engenharia, e o contributo que o género feminino pode dar à melhor humanização da engenharia, bem como cruzamento com outras áreas de saber, nomeadamente artísticas.

No cômputo geral, trata-se de um livro rico em ideias e que permite ampliar a noção da dimensão espiritual e social da engenharia enquanto profissão, posicionando o engenheiro como alguém que consegue ter uma visão sobre e para o mundo, e que concilia atributos como ser artístico, pensador e sensível, ao mesmo tempo que matemático, materialista, e pragmático.