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Sobre o livro 'The Design of Everyday Things' (Don Norman), e o que há para saber em matéria de bom design de produtos e processos (químicos ou não)

O livro The Design of Everyday Things (sem versão ainda em português), do académico norte-americano Don Norman, publicado originalmente em 1988 mas revisto e expandido em 2013, toca num tema marginal em muitos cursos de EQ mas absolutamente central em engenharia de produto, que é a questão do bom design. A palavra design pode ser traduzida como projeto, mas em EQ o termo 'projeto' remete para o dimensionamento de fábricas ou processos químicos, e raramente para produtos. Design é entre nós mais associado a questões estéticas, e como tal cai facilmente fora do ambito técnico que a especialidade de EQ se propõe tratar. Em todo o caso, e visto que a atividade de um profissional de EQ pode perfeitamente compreender a produção, comercialização, e produção de novos produtos e processos, o tema merece atenção e compreensão.

Alguns casos específicos interessantes do livro em matéria de problemas e soluções para o bom design já foram sendo abordadas aqui no BEQ, a saber, as possibilidades e desafios de projeto no que toca a conceber torneiras de água 'amigas' do utilizador (consultável aqui); as formas de prevenir erros que os fabricantes de automóveis encontraram para que os vários fluidos usados em veículos sejam devidamente utilizados (consultável aqui); ou ainda a importância do modelo conceptual no bom design de um produto, e um exemplo prático no controlo de temperatura de frigoríficos/geladeiras (consultável aqui) . Subjacente a estes exemplos práticos está a ideia-chave de que os problemas e falhas na utilização de produtos e processos, seja em casa ou numa sala de controlo industrial, não devem ser vistos como erros humanos de compreensão ou execução, mas antes como falhas a montante no bom design dessas soluções. Neste sentido o grande mérito do design tem de ser polir as arestas vivas das criações humanas para que os seus pontos fracos sejam atenuados a ponto de se tornarem invisíveis e inconsequentes. Para  o conseguir fazer de forma sistemática, o livro introduz conceitos como affordances e signifiers, resume a psicologia humana, e faz apologia da filosofia de design que põe no homem no centro da equação (human-centered design).



O livro toca também num aspeto crucial para todos os que almejam empreender e inovar, em EQ ou noutra área, que é reconhecer que apesar da tecnologia evoluir cada vez mais depressa, os princípios gerais da interação humana e a resistência umbilical dos humanos à mudança fazem com que inventar antes de todos não signifique necessariamente ter sucesso, pois há transições que demoram décadas a séculos a ocorrer, mesmo se conceptual ou funcionalmente promissoras e apelativas. Em complemento a esta ideia, Don Norman apela também para as questões éticas associadas à obsolescência programada de produtos, e aos vícios que capitalismo comporta para o bom design, tais como a falta de tempo e recursos para se trabalhar aprofundadamente, ou a permanente incorporação de mais e mais características/funcionalidades nos produtos, sem que haja necessariamente necessidade reais destas, como forma de diferenciação da concorrência e como forma de fazer os novos produtos aparentarem ser mais completos que as versões que os precederam.

No cômputo geral, recomenda-se a leitura de The Design of Everyday Things a estudantes ou profissionais de EQ, sobretudo se quiserem sensibilizar-se para desafios não-técnicos inerentes ao lançamento e afirmação de inovações, os quais podem ser tão ou mais decisivos do que os habituais constrangimentos discutidos em engenharia, como o custo  final, exequibilidade tecnológica, escala de produção, ou impacto ambiental.


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