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Sobre o livro 'José Miguel Leal da Silva: Entre Química e Minas', e uma multifacetada vida que hasteia bem alto a bandeira da engenharia química portuguesa

Das várias formas de aprender mais sobre engenharia química, uma delas é ir atrás da história das indústrias, empresas e/ou personalidades que se tenham destacado enquanto praticantes da profissão.

No seio da oferta livreira lusófona não abundam biografias sobre engenheiros químicos de formação, pelo que não é fácil conhecer o percurso de vida e o impacto dos muitos profissionais bem sucedidos desta área ao longo dos anos. Pode-se citar como raro exemplo o caso da biografia a Belmiro de Azevedo. Também por este motivo este blogue tem organizado e publicado entrevistas BEQ a personalidades contemporâneas que dão cartas nesta área profissional.

Há depois biografias que interessam mais pela temática industrial do que pela formação e exercício profissional dos visados, e aqui podem-se citar os casos de Alfredo da Silva (fundador da CUF entre outros marcos) e de Calouste Gubenkian (fundador da Partex entre outros marcos), ambos figuras que se posicionaram na indústria química e petrolífera, respetivamente, sobretudo pela vertente capitalista e executiva e não pelo conhecimento técnico aportado a estas áreas.

É precisamente neste contexto que o livro José Miguel Leal da Silva: Entre Química e Minas se apresenta como uma leitura valiosa, versando sobre alguém que se formou em EQ em 1960 no Porto, que hesitou entre leccionar ou entrar para indústria, e que totalizou uma longa carreira maioritariamente ligada à grande empresa química portuguesa CUF/QUIMIGAL, destacando-se tecnicamente ao nível da melhoria de processo com unidades de ustulação e produção de ácido sulfúrico por contacto; pelo grande aumento de escala de produção de ácido sulfúrico sob sua responsabilidade; na gestão de projetos industriais e de operações; e ainda pela complementaridade que alcançou ao introduzir-se nos temas de minas e metalurgia, que o levou ao tema da exploração mineira em Portugal (pirites). Pelo tempo em que viveu e altos cargos de responsabilidade que assumiu, Leal da Silva embrulhou-se também no emaranhado político e económico criado com a revolução de Abril no que diz respeito às nacionalizações e reprivatizações, e à perturbação de grande negócios pelo forte condicionamento político, estatal e lobbista internacional. 

Em suma, uma biografia muita necessária sobre alguém com um inestimável percurso de mérito pela indústria nacional e que hasteia bem alto a bandeira da engenharia química portuguesa.

1972: inauguração de uma nova unidade de fabrico de Ácido Sulfúrico (vulgarmente conhecida por Contacto 6) com uma capacidade diária de 625 toneladas/dia. (...)  Na época era a única do Mundo a funcionar pelo processo BASF usando fornos de leito turbulento em série. 
Imagem + Legenda: Blogue Indústria CUF



Sobre a obra:

José Miguel Leal da Silva: Entre Química e Minas é uma biografia assinada pela jornalista Maria João Alexandre, que resulta de várias entrevistas e de uma vasta pesquisa. A obra apresenta-nos a história de José Miguel Leal da Silva, um engenheiro formado em Química Industrial na Universidade do Porto, que dedicou a sua vida à indústria. Já na infância e na adolescência, revelava a sua paixão por fábricas e amostras minerais. Primeiro brincando «às fábricas», depois explorando as minas dos concelhos da Feira, de Valongo e de Gondomar. 

Com prefácio de João de Mello, presidente da Bondalti, e posfácio do professor e gestor Miguel Pina e Cunha, esta obra mostra-nos como o biografado deixou a sua marca nas indústrias química, mineira e metalúrgica. Primeiro, contribuindo para a evolução tecnológica da produção de adubos nas fábricas da Companhia União Fabril (CUF) no Barreiro, para onde entrou em 1961 e da qual viria a ser director. Depois, na área de produção de ácido sulfúrico a partir de pirites e de enxofre, teve várias funções de liderança, deixando o seu legado na transição das unidades de câmaras de chumbo para as fábricas de contacto.

Tanto no grupo fundado pelo industrial português Alfredo da Silva como na QUIMIGAL e na Empresa Mineira e Metalúrgica do Alentejo, acompanhou o aproveitamento dos minérios do Alentejo, defendendo sempre projectos de coordenação entre a mina e a metalurgia.

José Miguel Leal da Silva: Entre Química e Minas é a terceira obra da colecção «Histórias de Liderança», que nos dá a conhecer a vida daqueles que contribuíram para definir a natureza da gestão em Portugal, para memória futura, e cujos livros são fruto de pesquisa e de múltiplas entrevistas com os biografados e outras figuras que com eles conviveram, juntando também relevante acervo fotográfico.

Fonte: Guerra e Paz